Confirmo pelo olho mágico. Abro a porta. Bárbara? Sorrindo, ela me pergunta, só por perguntar. Ana Maria? Respondo, retribuindo reticente. Ficamos por uma fração de segundo, assim, nos olhando. Sorrimos, enquanto pensamos qual será nosso próximo gesto. Mas não agüentamos por muito tempo. É então o momento em que ela avança sobre mim com uma violência assustadora e me beija. Ela me beija forte. Na boca. Beijo de língua. Direto. Voraz. Agarra-se como se tivesse medo de me perder. Mãos no pescoço, na nuca, nas costas, prendendo-se a mim num abraço vital. Não me oponho. Quero-a também. Com paixão, com força, com desespero. Receptiva e ansiosa, retribuo o beijo naquela mesma intensidade. Ágil, sem desgrudar um segundo sequer da sua boca, do seu abraço, do seu corpo, consigo fechar a porta com um empurrão. Mantenho-a junto a mim, senão morremos. Vou tateando as paredes. Desviando cegamente dos obstáculos. Sem muito esforço encontro o caminho mais breve que nos leva ao quarto. Nossos corpos sempre grudados. Chocamo-nos de leve na porta entreaberta do quarto. Batemos na lateral do roupeiro. Derrubamos um dos abajures. Tropeçamos no tapete. Batemos no pufe. Mas nada é capaz de nos interromper. O momento é mais importante que tudo. Caímos sobre a cama. Por instantes, interrompemos nosso beijo. Ela, então, muito ágil, tira minhas roupas, e eu as dela. Estamos em estado de êxtase. Uma loucura controlada. Prestes a morrer se não o fizermos. Em segundos, e estamos nuas. Avidamente, retornamos ao beijo. Bocas, lábios e línguas a se devorar. Ela, a muito custo, abandona meus lábios e parte em busca do que parece ser desconhecido. Cada parte do meu corpo é vasculhada minuciosamente por sua quente, úmida, e ferina língua. Não resisto, entregue, não quero que ela pare. Tudo tão delicioso. Um prazer incomensurável. Somos uma da outra. Entregamo-nos por completo. Pescoço, axilas, seios, abdômen, púbis. Ela encontra minha vulva, minha vagina, meu clitóris. Parece sedenta. Sua língua não pára um segundo. Não desperdiça uma gota sequer dos meus fluidos. Quero retribuir, preciso retribuir, senão desfaleço. Então a puxo sobre mim para que possamos satisfazer uma à outra. E assim ficamos. Dando e recebendo prazer, em perfeita sincronia. Sussurros, gemidos, em uníssono. Um odor de morango impregna nossas narinas. A atmosfera do quarto parece nebulosa, rósea. O momento é propício. Queremos nos completar. Tamanha ansiedade, tamanha euforia não daria em outra coisa que não fosse um gozo forte, intenso, selvagem. Acalmamo-nos brevemente, por segundos, mas não paramos de nos tocar. Ainda temos fôlego. Ela, mais uma vez, investe sobre mim. Obriga-me a permanecer deitada, de lado. Ela me guia, erguendo uma das minhas pernas. Ajeita-se na posição. Entrecruzamos nossas pernas. Como duas tesouras gêmeas. Scissor sisters. Para que nossas vulvas se toquem, quentes, molhadas. Nosso objetivo está ali, tão perto. Em seguida, ajoelhadas, uma em frente da outra. Fazendo carícias, mutuamente, com as extremidades das unhas. Nossos rostos, nossos lábios, nossos seios, nossos ventres. Atingimos a nossa região dos segredos, maior fonte de nossos prazeres. Estamos muito excitadas. Os fluidos escorrem, exalando um morango 37. Nossos dedos dentro de nossas vaginas. Desbravando-as. O dedo indicador é o mais hábil. Uma na outra. Em perfeita harmonia. Enquanto buscamos, mantemos nossas bocas num beijo intenso, lascivo, como se quiséssemos trocar de língua. É tudo tão mágico e intenso. Tão maravilhoso. Inebriante. Ficamos assim, por vários minutos, até que, até que... en-con-tra-mos! Era o que procurávamos. As preliminares foram mais que necessárias, imprescindíveis, não poderíamos ter evitado. Tinha que ser assim. E, simultaneamente, enlaçamos as pequenas argolinhas metálicas. Estavam ocultas nas paredes vaginais, e, agora, presas na última falange dos indicadores. Encaixe perfeito. E, enfim, com firmeza, puxamos juntas, puxamos forte, uma a argolinha da outra. Gememos, gritamos. Irresistível. Não conseguimos evitar. Imperceptivelmente, em instantes, sob aquela atmosfera nebulosa de morango, avolumam-se, enormes, as corcundas em nossas costas. A pele se esticando, a carne se abrindo, ossos se partindo no pequeno espaço entre as omoplatas. Uma dor tolerável. A metamorfose lenta e gradativa. E, em cada uma de nós, bem de dentro das corcundas, saem, enormes, duas asas membranosas, maleáveis, divididas em várias partes cuneiformes, extremidades pontiagudas, como asas de morcego. Mas nossas asas são esbranquiçadas, quase róseas, úmidas ainda. Ficamos nos observando, encantadas com nossos novos acessórios. Movimentamos nossas asas para nos acostumar, pegar o jeito e, por instantes, permanecemos planando no quarto sobre a cama. Por vezes, nos chocamos, pois o espaço tornou-se pequeno. Procuramos equilíbrio de mãos dadas. Planando no suave movimento das asas. Uma sensação ótima e relaxante. Mas nosso processo de mutação é contínuo. Simultaneamente, brotam, avermelhados, dois pequeninos chifres nas nossas testas. E, na altura do cóccix, um desengonçado rabinho de quase um metro, no mesmo tom. Mas nada que possa diminuir nosso encanto. E, sem que possamos evitar, logo começamos a perder a nitidez. Em seguida, nossos corpos vão ficando translúcidos, até atingirmos a completa invisibilidade. Agora sim, só nós podemos nos ver, ninguém mais. Estamos livres. Agora somos capazes de ir a qualquer lugar, a qualquer momento. Basta pensar e... estamos lá. E, neste exato momento, imagine só, onde estamos? Onde estamos? Nós duas estamos bem aí, com você, uma de cada lado. Estamos sussurrando obscenidades inaudíveis no seu ouvido. Estamos sorrindo e analisando seu rosto iluminado pela luz tênue do monitor. Admirando suas feições, tentando interpretar a sua reação ao ler este texto. Mas lhe garanto que nós duas estamos a-do-ran-do fazer isso. É tudo, tudo, tão divertido. Divertidíssimo. (...) E-mails para catherine.lanou@gmail.com
sexta-feira, 5 de março de 2010
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