Pensem e digam o que quiserem, mas eu tenho absoluta certeza que algumas coisas só acontecem comigo. Se não é, então! Vejam só, vocês! Em todas estas minhas três décadas e meia, mal vividas, tive tantos namorados que posso contá-los em uma só mão. Quatro. Estaria sendo radical ao dizer que foi um pior que o outro, mas olha que não seria exagero de minha parte. Quatro, somente quatro esporádicos e legítimos malas-sem-alça. E olha que estou sendo até boazinha.
Tudo bem, tudo bem. Também, não vou ficar enganando ninguém, subestimando suas inteligências. É que... é que... está bem, eu admito! Sou feia, pareço feia, sei lá. Eu me acho feia. Feia e pronto. Estou aqui viva, ainda, graças ao meu instinto inato de autopreservação. Em alguns dias, sinto-me tão horrível, a ponto de nem sequer ter coragem de me olhar no espelho. Parece ridículo, mas é a mais pura verdade. Odeio meu corpo de baixinha e gordinha, meu cabelo muito seco que tenho sempre de mantê-lo preso, meu rosto muito redondo, com várias pintinhas, as quais muitos chamam de “belezas”, mas não as minhas. Não sei aonde que certas pessoas vêem beleza nas pintas.
Acho que mesmo que eu fosse milionária e gastasse horrores em salões de beleza e cirurgias plásticas, ainda assim não enganaria muita gente. Então, sou franca e consciente, acho que a única solução para mim seria, infelizmente, nascer de novo. Podem rir. Não me importo mesmo. Acho que se mudasse de fôrma, trocasse os pais, quem sabe? Duvida? Tenho 1,62 de altura, quadril largo, coxas grossas, e toda a vez que compro uma calça jeans, tenho que levar para uma costureira ajeitar e tirar quase meio metro de tecido de cada perna. Desperdício de dinheiro e tecido. Sempre fui assim “fofinha”, desde criança. Lembro das piadinhas de mau gosto na escola e entre os “falsos” amigos, mas acho que não traumatizei.
E também garanto a vocês que não foi excesso de mimos, guloseimas ou coisa parecida. Acho que é meio genético, DNA mesmo, disfunção da tireóide, ou qualquer outro defeito hereditário de fábrica. Em meu rosto, à exceção dos meus olhos castanho-claros, nada mais me agrada. Cheguei a tentar maquiagem para disfarçar, mas acho que fiquei até pior. Mas, voltando aos meus raríssimos e seletos quatro namorados, como disse, nenhum deles foi grande coisa. Nunca pude nem quis ser muito exigente, mas mesmo assim. Decepcionei-me.
Além de eles não terem sido do tipo “maurício-de-mattar” ou “gianechini” da vida ou coisa que o valha, eram espécimes raros de paradigmas de anti-herói. Grosseiros exemplares, quase ogros, meio elos-perdidos. Daqueles que faziam xixi em pé, como os cavalos, sem levantar o acento do sanitário, respingando por tudo, sem nem ao menos dar a descarga. Não tinham o hábito da higiene íntima, não aparavam os pêlos pubianos, deixando sempre um rastro de pêlos no banheiro, que dariam até para fazer tranças. Parece engraçado, mas não é.
Eram daqueles que arrotavam sem cerimônia, soltavam pum e perguntavam descaradamente, sem a mínima graça – quem foi?! Ou bebiam demais (não sei se era para ter coragem de me enfrentar ou para me esquecer um pouco), ou fumavam demais, como chaminés ambulantes, sem falar que não conseguiam parar em emprego algum, não gostavam de leitura, nem de filmes, só da maldita tevê, na crônica esportiva e de futebol. Avessos ao romance, nem um pouco carinhosos e, claro, verdadeiros desastres como amantes. Sem a mínima criatividade na cama. Aliás, eram modelos de velocidade, do tipo pá-pum, como bons fundistas dos 100 metros rasos. No máximo 15 segundos e estavam satisfeitíssimos (com eles mesmos, obviamente!).
Eu sempre mantive o hábito de salão de beleza semanal, cabelos, unhas em dia, depilação total, íntima inclusive, a cada 15 dias, e confesso que sempre procurei compensar na cama a minha falta de bons atributos físicos. Apesar de ter sido criada por uma mãe muito católica, não puxei sua veia carola. Minha mãe nunca conversou sobre sexo comigo e acho que até foi bom isso, pois nem a imagino falando sobre o assunto.
E assim, tive que aprender tudo na marra mesmo. Lendo muito e de tudo um pouco, sem muito rigor de escolha, muito eclética. Quando consegui minha independência, não tive outro pensamento. Fui morar sozinha. E, a partir deste período, fiz meus cursos auto-instrucionais de educação sexual. A inexperiência me asfixiava. Não havia outra solução a não ser o autodidatismo. Tenho essa facilidade como característica em tudo o que faço.
Não espero pelos outros. Vou-me em busca do saber, do meu conhecimento. Conquistei um bom emprego. Hoje tenho uma vida estável, tranquila, apartamento financiado (em dia) e dentro do meu orçamento. Um carrinho usado, do tipo econômico, mas quitado e com seguro. E então, como estava dizendo, sempre procurei compensar na cama a ausência de beleza. Nunca cultivei falsos pudores, nem queria, pois sempre me foi coisa cultural. Sou avessa ao preconceito. Odeio a ignorância.
Para mim, na cama, num quarto, entre aquelas quatro paredes, para se satisfazer, janelas e porta trancadas, sigilo absoluto, vale tudo. Para que se resguardar tanto, se nem ao menos sabemos se estaremos vivos na semana que vem. Sempre pensei assim. Então, com estes meus poucos namorados, do tipo relâmpago, fugazes, com quem convivi tão pouco, pois os relacionamentos não duravam mais que dois meses, nunca me fiz de rogada. Sempre me predispus a tudo, sem qualquer preconceito, fiel aos meus manuais de aprenda-sozinha-sem-sair-de-casa.
Sexo oral nas preliminares, sexo vaginal com variações pelo anal, cunnilingus, fellatio, sessenta e nove e tantas outras possibilidades. Idéias nunca me faltaram, pois me acho muito criativa. Mas os relacionamentos eram tão melancólicos e parecia que eu não era tão eficiente, até que percebi que não era eu o problema. Eram eles, sempre eles, os homens, “aqueles” homens. Brutos estereotipados que acham que perdem a masculinidade com uma simples depilação, ou apenas num aparar de pêlos, ou se agirem com gentileza e educação, ou se forem mais carinhosos com uma mulher.
Quanta ignorância! Quando meu último (graças a Deus!) namorado esgotou minha paciência, fazendo-me um favor indo embora, cheguei a perder a vontade. Perdi a “tesão”, como dizem, de procurar companhia. Além do que, a simples idéia de encontrar mais outro mala como aqueles me apavorava. Então tomei uma decisão, embora tardia. Chega! Disse para mim mesma. Bastava. Descobri que eu era mais feliz sozinha. Meu apartamento parecia até ter ficado maior e mais confortável. E, então, passei a me dedicar à cultura geral, ao meu conhecimento.
Voltei a ler como antes. Li muitas revistas culturais, muitos livros, de todos os autores e gêneros literários, principalmente os pouco convencionais. Fiz passeios, viagens, visitei museus. Fui ao teatro, ao cinema. Assisti a muitos filmes em DVD, inclusive aqueles que me eram proibidos no passado, com aquele erotismo explícito ou subentendido. Fiquei fã de muitos diretores e atores.
Adorei o erotismo muito bem humorado de Tinto Brass e suas belas atrizes italianas, como em “Transgredire”, “Monella” e “Fallo!”. Apaixonei-me pelos filmes de erotismo cult da francesa Catherine Breillat (“Uma jovem realmente jovem”, “Fat Girl” e “Anatomia do Inferno”). Ou então os eróticos quase insanos de Larry Clark (“Kids”, “Ken Park e “Bully”). E claro, não vou esconder, não sou ingênua e ninguém é tão tolo, assisti também àqueles bem vulgares mesmo, de “sacanagem”, sem qualquer pudor, sem história e sexo sem limites ou pausas. Daquelas produções que os americanos adoram encher nas capas os rótulos de “gang bang”, “cum shot”, “double penetration”, “ass to mouth” e muitas outras expressões muito criativas, mas completamente desnecessárias. Dentre estas produções pervertidas, destaco os filmes da atriz pornô Audrey Hollander. Uma mulher sem limites.
De tudo, enfim, sempre se aprende um pouco. Basta perspicácia e um bom e atento olhar. E assim, numa bela madrugada, enquanto navegava pela internet, veio-me uma idéia que iria mudar meu modo de viver e pensar sobre sexo. Fiz compras em um site erótico, um “sex-shop”, com “delivery” via postal. Peguei meu cartão de crédito e num instantinho estava feito. Dois dias depois, estava recebendo as encomendas em casa. Sigilo absoluto, sem qualquer estresse.
Pois bem, confesso que, enquanto escolhia meio perdida entre a grande gama de brinquedinhos oferecidos, me apaixonei por um vibrador importado, com design ultra-arrojado, anatômico, em forma de meia-lua, largo e achatado nas extremidades, na cor branca, três velocidades, completamente diferente daqueles tradicionais em formato fálico. E para aproveitar a remessa, comprei também um par de bolas para pompoarismo, para fortalecer a musculatura da vagina, e um lindo plug anal para dilatação na cor rosa pink, lindo. Eles me enviaram junto, gratuitamente, sachês de gel lubrificante.
Se bem que eu sempre fui prevenida e mantenho comigo, entre meus produtos de primeiros socorros, óleo de amêndoas, gel lubrificante íntimo, e até vaselina. Nunca se sabe quando nos serão úteis. Pois bem, de posse dos meus brinquedinhos, preparei o ambiente para inaugurá-los e testar suas eficiências. À noite, ambiente aquecido, brinquedos sobre a cama, um filme daqueles “preste bem a atenção e siga-me”. Não demorei muito a me excitar, observando a prática da atriz no filme que se divertia com um enorme vibrador azul em formato de rosca. Lubrifiquei bem meu querido e anatômico vibrador em forma de meia-lua. Descobri que o formato facilita e muito os movimentos, enquanto se permanece deitada de costas. Num instantinho, eu já parecia estar ao lado da atriz do filme, curtindo seus gemidos que me excitavam ainda mais. Com mais da metade do meu novo vibrador introduzido na vagina, mudei de posição, ficando de bruços. Coloquei um travesseiro sob a região do quadril e, com as mãos livres, lubrifiquei aquele lindo plug rosa pink e comecei a introduzi-lo no meu ânus. Era ótima a sensação de estar sendo possuída daquela forma, duplamente preenchida, completada. Não demorou muito e, de olhos fechados, só ouvindo os gemidos vindo da tevê, gozei deliciosamente. Fazia tempo que não me divertia daquele jeito. E foi preciso fazer sozinha.
Infelizmente, ou não, não sei, mas tenho repetido isso com mais frequência. Depois, um pouco mais relaxada, ainda assistindo ao filme, testei minhas bolinhas de pompoarismo. Não cheguei a gozar, mas foi um exercício bem relaxante, gostoso, ficar contraindo a musculatura vaginal na tentativa de segurar ambas as bolas lá dentro. Muito prazeroso.
E, ontem, enquanto assistia pela enésima vez ao filme meio maluco “Cidade dos sonhos” (Mulholland Drive, 2001), do doido David Lynch, não resisti à cena mais excitante de amor entre mulheres de todos os tempos (na minha opinião e de muitos outros fãs). As personagens das atrizes Naomi Watts e Laura Elena Harring fazendo amor no filme, com tamanha naturalidade, que transformaram a cena num momento mágico, sublime, perfeito. Não resisti, e tive que me socorrer do meu novo amiguinho, o vibrador anatômico. Foi ótimo, maravilhoso. Voltei à cena várias vezes até me sentir no meio delas, desfrutando daquele momento inesquecível.
E, assim, desde este filme, fiquei fã de Naomi Watts e procuro, sempre que posso, acompanhar sua carreira. Descobri que o amor entre mulheres também me excita e muito. E, como sou uma mulher de cabeça aberta, sem preconceito ou pudores, vejo agora um mundo inteiro ainda pela frente. Quem sabe não é o que me falta para aumentar minha auto-estima?
Bem, então, sou tudo isso e um pouco mais. Sou também uma bibliomaníaca, leio muito (tenho mais de 1.500 livros em casa), sou mais ainda uma cinéfila obsessiva (minha videoteca tem quase 1000 filmes em dvds e arquivos dvdrip. E, para terminar, duas dicas de filme: para quem gosta de um bom filme nacional, “Mulheres, sexo, verdades, mentiras” de 2007, com Júlia Lemmertz e grande elenco; e “Diario de una ninfómana” de 2008, uma ótima produção espanhola, cujo título em português é “Diário Proibido”. Dois filmes sérios e muito bem recebidos pela crítica e público.
Beijos a todos. E-mails para catherine.lanou@gmail.com.